sábado, 2 de maio de 2009

Carta do Jovem Werther a seu amigo Wilhelm

Junho, 16

A razão por que eu não lhe tenho escrito? E é você que me pergunta. Você que se inclui entre os sábios? Pode bem adivinhar que sou feliz, e mesmo... Em duas palavras, conheci alguém que tocou o meu coração. Eu... eu não sei o que diga...

Não é fácil contar-lhe, metodicamente, as circunstancias que me fizeram conhecer a mais adorável das criaturas. Sinto-me contente, feliz; serei, portanto, um mau narrador.

É um anjo!... Bolas! Já sei que todos dizem isso da sua amada, não é verdade? Entretanto, é-me impossível dizer a você o quanto ela é perfeita, nem por que é tão perfeita. Só isto basta: ela tomou conta de todo o meu ser.

Tanta naturalidade aliada a tão alto espírito de justiça! Tanta bondade aliada a tamanha firmeza! Uma alma tão serena e tão cheia de vida e energia!

Tudo quanto acabo de dizer não passa de pobres abstrações que não dão a menor idéia da sua individualidade. De outra vez... Não; de outra vez, não; é agora que eu quero contar a você tudo quanto acaba de acontecer. Se não contar agora, não contarei nunca mais. Porque, aqui entre nós, três vezes depois que comecei a escrever, estive a pique de descansar a pena, mandar arquear o cavalo e ir vê-la. Entretanto, eu havia jurado a mim mesmo de não ir lá hoje, mas a cada momento vejo-me à janela olhando a que altura ainda está o sol...

Não pude resistir, tive de ir vê-la e eis-me de volta, Wilhelm. Devoro o meu pão com manteiga e escrevo ao mesmo tempo... Que maravilha para a minha alma tê-la visto em meio da algazarra das crianças, seus oito irmãozinhos!

Werther - Johann Wolfgang von Goethe (1774)

---

O dia 16 de junho continua por varias páginas mas neste fragmento já é possivel mensurar a tragédia em seu fim e a impulsividade de alguns corações.



Nenhum comentário:

Postar um comentário