domingo, 10 de maio de 2009

Instantes

Em um dia qualquer, antes dos meus 18 anos eu estava sozinho em meu quarto pensando nas teorias da evolução de Darwin e a de Lamarck. Por descuido dessa mente no ócio da minha adolescência absorvi Lamarck como metáforas de desculpas para meus defeitos. Pensei também se a teoria de Darwin é aplicada a nossa sociedade, pensei em algumas possibilidades e nas suas consequências, até dei um nome pessoal para tudo isso: darwinismo social.

Foi nesse ponto que me assustei, que tentei esquecer de tudo que tinha pensado, de mudar o final a história.

O mal já havia sido feito. No mesmo dia consegui um pequeno conforto ao saber que minha ideia nao era original, que já existia teóricos sobre o assunto, que a Alemanha nazista já havia sido derrotada. O pequeno conforto foi descobrir que talvez já tivéssemos aprendido com os erros do passado. Atualmente ainda penso em Darwin, de uma maneira diferente, ainda assustadora, mas em menor proporção que possibilita meu olhos que verem sorrisos sinceros.

Toda essa introdução que daria assunto para um post inteiro foi só para dignificar o pensamento humano livre, que coincidências podem existir e que podemos encontrar humor nelas.

Em Fevereiro viajei com um amigo que me falou que estava lendo Jorge Luiz Borges, me mostrou os livros de contos e poemas nas livrarias. Eu, um nobre ignorante, não conhecia o autor, e também não ligava muito para isso.

Semana passada o acaso tocou meus ouvidos. Em meio a uma palestra chata de um velho especulador que se dizia veterano na vida e que citava de Orwell a Aristóteles me deu por um breve momento uma sensaçao de Deja Vu.

Ele falou algo sobre um tal Borges e um poema sobre instantes, que por minha felicidade se chamava exatamente "Instantes":

Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria
mais tolo do que tenho sido.

Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais
sorvetes e menos lentilha, teria mais problemas
reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos.

Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia a parte alguma sem um
termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva
e um pára-quedas e, se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no
começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida
pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo
Jorge Luiz Borges


Que no mesmo instante me lembrou uma musica de mesmo nome:


Não mais caminhar na praia...
Não mais outro entardecer...
Não mais a brisa que diz “Vai chover”...
Não mais as luzes da cidade
me dizendo que há tanta coisa pra viver.

Eu que tanto quis guardar meus dias,
Eu que tanto pensei com medo de tentar...
Já não mais, não mais me restam chances de errar.

Ah, quando eu penso que tudo poderia ser...
Ah, quando eu lembro que era só querer...
a fumaça sai de meu olhar,

eu tento não ver,
tento negar que este no espelho já não sou mais...
Agarro meus sonhos entre minhas mãos,
mas por entre meus dedos eles se vão.

Ah se eu pudesse voltar atrás, juro,
eu viveria cada dia.
Mas tão fraco já não posso mais
recuperar os anos que deixei pra trás.

Andaria na chuva,
pularia no mar
e te diria tudo que deixei de falar...
não mais...não mais...não mais...
Fábio Altro, Dance of Days

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