quinta-feira, 23 de abril de 2009

Diário de navegação

Pensei. Não escrever é um dos meus maiores arrependimentos, pois o tempo em seu curso sutil definha a máxima das lembranças dos sentimentos incalculáveis.

Existem livros, músicas e situações que caem como uma luva para provar que W+Y=K em vez de seguir o tão linear A+B=C, assim como Omar e Cedric fizeram ao tocar Abortion, eu trilho essa escolha.

Portanto hoje grito. DEVORO SIM, ROSAS DE ILUSÕES, MAS NÃO RESIGNO À MENTIRA.

Era o primeiro dia de aula, com um romance em mãos entrei naquela sala. Alguns rostos me lembravam pessoas outros eram completamente desconhecidos, me dirigi as ultimas cadeiras segunda coluna próxima a porta. Tive a impressão que gotas de suor acumulavam em minhas sobrancelhas.

Conversei um pouco sobre qualquer coisa com uma pessoa qualquer, mas essa segunda-feira foi diferente, algum louco havia gritado feriado lá fora quando tentava me concentrar no livro e como se o acaso aceitasse a sorte aqueles joelhos nus fitaram meus olhos.

Cabelos longos da cor de seus olhos castanhos, pele branca levemente ocultada por alças de um vestido cinza de perfil simples, que contemplavam aquelas formas firmes e como a ultima peça de um quebra-cabeça ela tinha um livro contra seus braços, O mundo de Sofia.

Meus olhos em Xilocaína permaneceram perseguindo seus passos que cessaram em uma cadeira ao lado a minha. Com uma leveza inestimável se arrumou na cadeira fixando seu olhar na aula. Ela surgiu como um fantasma de sentimentos que circulavam em minhas veias e dilacerava meu coração. Senti-me triste, e por um breve momento odiei-a.

Não me interessava que aula ou que horas eram, mas já passava do intervalo. Só queria observar o toque daqueles dedos finos em seus cabelos úmidos.

Quando voltei a me concentrar nas palavras do livro na tentativa de esvaecer minhas dores, uma voz firme sem nenhum sinal hesitação, mas sutil como a da consciência invadiu meu ouvido direito.

“Que livro você está lendo?”

Levantei minha cabeça, mal pude encarar o aspecto sereno de seu rosto, todo seu conjunto de me traziam lembranças de uma vida passada, então fechei o livro e lhe mostrei a capa.

“Hm, Quando Nietzsche Chorou, eu gostaria de ler, me empresta quando terminar?”

Lembro que concordei falando que faltavam poucas paginas. Ela sorriu e voltou seus olhares para a aula.

Alguns dias depois terminei o livro e o emprestei para ela.

Ela, pelas poucas notícias que tenho nunca terminou de ler.

Antes de sumir ela disse: “Nunca mais ordenou minha vontade, amanhã novamente suplicou meu coração” como Goldmund fazia.

O acaso (ela) permanece viva como o herói que nunca deseja a morte no âmago de meus sentimentos.

A sorte (o livro) mudou minha vida, trocou a direção de meus trilhos, consumiu minha dor que hoje insiste em bater minha porta.

Mas foram nesses dias oceanos que puxei minha ancora, que atirei fogo nos remos, naveguei a esmo, senti os ventos mais fortes, que me levaram a novas praias de águas cristalinas.

E o absurdo da vida tornou-se sem temor na “Buscar o que é verdadeiro não é buscar o que é desejável” Albert Camus.


Saiki Koala Guitar

Nenhum comentário:

Postar um comentário